terça-feira, 3 de setembro de 2013

O que acontece quando você fica elogiando a inteligência de uma criança

Gabriel é um menino esperto.
Cresceu ouvindo isso.
Andou, leu e escreveu cedo.
Vai bem nos esportes.
É popular na escola e as provas confirmam, numericamente e por escrito, sua capacidade.
“Esse menino é inteligente demais”, repetem orgulhosos os pais, parentes e professores. “Tudo é fácil pra esse malandrinho”.
Porém, ao contrário do que poderíamos esperar, essa consciência da própria inteligência não tem ajudado muito o Gabriel nas lições de casa.
- “Ah, eu não sou bom para soletrar, vou fazer o próximo exercício”.
Rapidamente Gabriel está aprendendo a dividir o mundo em coisas em que ele é bom, e coisas em que ele não é bom.

gabriel3

A estratégia (esperta, obviamente) é a base do comportamento humano: buscar prazer e evitar a dor. No caso, evitar e desmerecer as tarefas em que não é um sucesso e colocar toda a energia naquelas que já domina com facilidade.

Mas, como infelizmente a lição de casa precisa ser feita por inteiro, inclusive a soletração, de repente a auto-estima do pequeno Gabriel faz um… crack.

Acreditar cegamente na sua inteligência à prova de balas, provocou um efeito colateral inesperado: uma desconfiança de suas reais habilidades.
Inconscientemente ele se assusta com a possibilidade de ser uma fraude, e para protegê-lo dessa conclusão precipitada, seu cérebro cria uma medida evasiva de emergência: coloca o rótulo dourado no colo, subestima a importância do esforço e superestima a necessidade de ajuda dos pais.
A imagem do “Gabriel que faz tudo com facilidade” , a do “Gabriel inteligente” (misturada com carinho), precisa ser protegida de qualquer maneira.
Gabriel não está sozinho. São muitos os prodígios, vítimas de suas próprias habilidades de infância e dos bem intencionados e sinceros elogios dos adultos.
Nos últimos 10 anos foram publicados diversos estudos sobre os efeitos de elogios em crianças.
Um teste, realizado nos Estados Unidos com mais de 400 crianças da quinta série (Carol S. Dweck / Ph.D. Social and Developmental Psychology / Mindset: The New Psychology of Success), desafiava meninos e meninas a fazer um quebra-cabeças, relativamente fácil.
Quando acabavam, alguns eram elogiados pela sua inteligência (“você foi bem esperto, hein!) e outros, pelo seu esforço (“puxa, você se empenhou pra valer hein!”).
Em uma segunda rodada, mais difícil, os alunos podiam escolher entre um novo desafio semelhante ou diferente.
A maioria dos que foram elogiados como “inteligentes” escolheu o desafio semelhante.
A maioria dos que foram elogiados como “esforçados” escolheu o desafio diferente.
Influenciados por apenas UMA frase.
O diagrama abaixo mostra bem as diferenças de mentalidade e o que pode acontecer na vida adulta.
graf
O Malcom Gladwell tem um ótimo livro sobre a superestimação do talento, chamado “Fora de Série” (“outliers”). Lá aprendi sobre a lei das 10 mil horas, tempo necessário para se ficar bom em alguma coisa e que já ensinei pro meu filho.
Se você tem um filho, um sobrinho, ou um amigo pequeno, não diga que ele é inteligente. Diga que ele é esforçado, aventureiro, descobridor, fuçador, persistente.
Celebre o sucesso, mas não esqueça de comemorar também o fracasso seguido de nova tentativa.
UPDATE : Apenas alguns esclarecimentos a alguns dos comentários…
01. Não, eu não estou dizendo para não elogiar as crianças. E não, também não estou dizendo para você nunca dizer para o seu filho que ele é inteligente. É apenas uma questão de evitar o RÓTULO.
02. Evidentemente não sou o autor dessa tese/teoria, muito menos desse estudo citado no post. Escrevi justamente SOBRE essa linha de pensamento. Quem escreveu essa teoria foi Carol S. Dweck / Ph.D. Social and Developmental Psychology / Mindset: The New Psychology of Success(http://news.stanford.edu/news/2007/february7/dweck-020707.html) como foi citado acima e nos comentários também.
03. Gostaria de aproveitar o update e agradecer pelos inúmeros comentários e likes, o que prova o quanto esse assunto é fascinante.

Máscaras


Carregamos muitas máscaras e às vezes esquecemos de tirá-las. Pode ser a exigência da sociedade que nos faz vesti-las, não percebemos e assim vamos ficando engessados, esquecendo-nos qual a nossa verdadeira face.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O “mundo virtual” é bastante real


Conversando com amigos, ainda me deparo com muitos deles se referindo às atividades que realizam na internet como se suas “vidas virtuais” fossem vivencias separadas da “vida real”, isto é, independentes do que fazem fora da web. Mas o que a internet - as redes sociais e todas as modalidades digitais, inclusive games - tem de especial que leva as pessoas a criar essa cisão entre suas supostas vidas reais e virtuais?
Percebo essa atitude principalmente em adultos, que têm muitos questionamentos sobre as coisas que fazem na internet. Nos jovens essa cisão pouco aparece expressa, enquanto as crianças parecem sequer imaginar essa separação.
Por coincidência, soube recentemente da experiência do jornalista Paul Miller, editor-sênior do portal The Verge, que, por decisão própria, abandonou completamente a os meios digitais por um ano, ficou sem internet, desligou o smartphone e ficou completamente offline. Paul tomou essa decisão no começo de 2012, porque achava que a internet ocupava tempo demais na sua “vida real”, o privava de experiências “reais” enriquecedoras e até o afastava de pessoas “reais”. Cortou todos os vínculos online para encontrar o que ele mesmo chamou de “um Paul melhor”. Um relato detalhado da vivência, feito por ele mesmo, pode ser lido em http://mobile.theverge.com/2013/5/1/4279674/im-still-here-back-online-after-a-year-without-the-internet
Ao final da experiência e já reconectado, ele reconhece: “eu estava errado”.
No começo, todos os acontecimentos pareciam corroborar sua tese. Mas, com o passar do tempo, ele foi percebendo que não era bem assim. No final, ele concluiu justamente que a “vida real” e a “vida virtual” são uma coisa só: sua própria vida. O que ele faz ou deixa de fazer, suas virtudes e seus defeitos, como se relaciona com as pessoas, como trabalha, enfim como vive depende única e exclusivamente dele mesmo. A internet é só uma ferramenta para expressar tudo isso. Pode até potencializar cada uma dessas características, mas ela não cria nem destrói nada por si mesma.
 que motivou Paul Miller a separar a “vida real” da “virtual” e como ele chegou à conclusão de que isso não existe aconteceu seguindo padrões de pensamento que inconscientemente estão dentro de todos nós. Essa dinâmica de desenvolvimento das pessoas é descrita pela psicologia analítica de Jung.
Esse caminho pode ser trilhado por qualquer um em diferentes momentos de sua vida, principalmente a partir da adolescência, e por diferentes motivos. Esse processo é representado pelo “Mito do Herói”.
Em sua estrutura básica, esse mito narra um processo de afastamento, ou isolamento do indivíduo, que inicia uma jornada da busca por algo de grande importância para ele ou para seu povo, e seu posterior retorno ao local de sua origem. O mito é dividido em três fases principais. A primeira delas é a “partida”, na qual o herói deixa a casa e todo seu conforto e parte para a aventura. A segunda - a “iniciação” – é aquela na qual o herói precisa passar por todos os desafios que promoverão a sua transformação. E a última fase é o “retorno”, quando o herói regressa à sua casa mais amadurecido, portador de novos conhecimentos e habilidades.
No caso de Paul Miller, a “partida” correspondeu ao abandono de uma vida totalmente conectada à internet para um período off-line, em busca do seu “Paul melhor”. Ao longo do ano, foi confrontado com novas realidades, que lhe exigiram e proporcionaram novas experiências, mas que também permitiram ampliar a sua consciência sobre vários aspectos da vida cotidiana da atualidade. Entre esses, atividades como usar o correio convencional, o mapa impresso em papel, andar de bicicleta e encontrar pessoas presencialmente. Se, por um lado, o fato de viver dessa forma lhe proporcionava novos prazeres, por outro ele se sentia angustiado, pois muitas coisas passaram a ser muito mais difíceis de ser realizadas, como responder a correspondência ou até mesmo encontrar as pessoas.
Por isso, passada a fase inicial da euforia, que o levou até mesmo a perder nas primeiras semanas mais de sete quilos sem fazer esforço, o jornalista começou a perceber que os problemas por estar online haviam sido substituídos por outros, gerados pelo fato de estar off-line. Mas, esses “novos problemas” provinham, na realidade, dele mesmo e, de certa forma, percebeu serem estes apenas novas versões dos mesmos “velhos problemas”.
A partir dessa percepção, Miller concluiu que não existia uma real separação entre esses dois mundos – o virtual e o real – mas que, em ambos ambientes seu comportamento apenas correspondia às diferentes expressões do seu próprio ser. E ainda, que as coisas boas e ruins que aconteciam quando ele estava online ou off-line são decorrências de sua forma particular de ser, e não do fato de estar conectado ou não.
A internet é apenas mais uma ferramenta que todos nós podemos utilizar. Pelo fato dela nos proporcionar um leque variado de alternativas e possibilidades, as pessoas, principalmente os adultos, estabelecem essa separação entre as atividades realizadas online e o que fazemos presencialmente. As crianças não agem dessa forma porque elas já conheceram a internet de uma maneira totalmente integrada ao seu cotidiano: algo tão simples quanto o fato da eletricidade estar presente e disponível nas tomadas das suas casas.
Estabelecer contatos online é, de certa forma, semelhante a falarmos com alguém pelo telefone. Antes da sua invenção, precisávamos ir até a pessoa com quem quiséssemos conversar. Com o surgimento do telefone, deixou de ser necessário. Mas isso não quer dizer que o interlocutor esteja dentro do telefone (e ninguém hoje pensaria dessa forma).
De maneira equivalente, tudo o que hoje já fazemos via internet pertence e está inserido no nosso mundo, no “mundo real” e não em um suposto “mundo virtual”. Paul Miller precisou percorrer a jornada do herói durante um ano para chegar a essa conclusão: a vida é, na realidade, muito mais simples e única.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Feliz Páscoa de ressurreição!




Feliz passagem para todos nós, pois esta é época de reflexão sobre morte e renascimento. Tenhamos a possibilidade de reciclar o nosso lixo emocional e as atitudes e crenças que estão obsoletas na nossa psique. Trabalhemos o AMOR consciente como um desafio pessoal e permitamo-nos emanar um amor mais consciente. Quando percebermos que os outros com quem nos relacionamos são verdadeiras projeções dos nossos desejos e carências, quando assumirmos que os defeitos que vemos nos outros e que nos magoam são as nossas próprias sombras a se manifestar e a pedir para serem tratadas, quando sentirmos que o verdadeiro amor está em nós e não no que o outro nos dá, então estaremos no bom caminho da liberdade e ao nosso próprio encontro.
Que consigamos ser mais leves, descompromissados e mais livres de soberba e de poder desmedido. Isso é, na realidade, o que simbolicamente vivenciamos todos os anos durante a Semana Santa, ao celebrarmos a jornada de Jesus, que é o arquétipo da Grande Síntese entre o humano e do divino. Da união das polaridades, do encontro do sofrimento e da morte com a Ressurreição. Pensemos no nosso próprio renascimento para algo novo e melhor.
Viva plenamente!!