segunda-feira, 25 de agosto de 2008

III Jornada do NPPI sobre Psicologia e Informática

O NPPI – Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP – realiza, no dia 20 de setembro, a sua terceira Jornada. O evento, que acontece a cada dois anos, reunirá profissionais de todo o país, que discutirão diferentes aspectos de como a Internet e a informática como um todo influenciam e modificam a psicologia, diante de novas demandas trazidas pelos clientes e possibilidades para o profissional.
Esse tema já deixou os círculos de pesquisa restritos a psicólogos, passando a fazer parte do dia-a-dia do cidadão comum. Assuntos como dependência da Internet e atendimentos psicológicos on line chegam constantemente, não apenas a grupos que pesquisam esses temas, como o próprio NPPI, mas também aos consultórios de profissionais que, na maioria dos casos, não sabem como lidar com esses novos pedidos de seus pacientes.
Apesar dessa crescente exigência do mercado, os terapeutas não podem simplesmente abraçar essa nova vertente de uma maneira leviana. A integração da informática com a psicologia exige várias novas habilidades específicas desses profissionais e abre um leque de questões éticas delicado.
Além de ter uma boa base empírica, o terapeuta tem que ter uma boa bagagem no atendimento presencial, porque provavelmente ele vai ter uma exigência maior no atendimento on line, diante de uma configuração de cenário completamente diferente. Nele, o elemento central de contato é a escrita, e não o olhar direto do terapeuta sobre seu cliente, sem expressões corporais, importantes num atendimento presencial. Além disso, o terapeuta deve ter um cuidado particular para deixar claro ao paciente o tempo estipulado para essas orientações e tempos relativos às trocas de e-mails, para evitar ansiedade extra no cliente pela demora em chegar uma resposta. Por isso, o terapeuta deve ter uma boa experiência no atendimento presencial para poder atuar de forma mais eficiente no atendimento on line.
Da mesma forma que a tecnologia afeta a psicoterapia, também a demanda da população vem se transformando e os pedidos de orientação são dos mais variados, muitos relacionados à internet. Entre os que chegam com mais freqüência no NPPI, estão as pessoas que se dizem dependentes do uso da internet, cyberbulling, problemas com games e dificuldades de relacionamentos. A demanda não é apenas da população local, mas também de outras localidades e até de outros países.
Cabe frisar que as questões éticas envolvidas nesta nova forma de intervenção psicológica ainda em pauta não podem ser iguais às normas éticas de terapia presencial. As psicoterapias on line continuam sendo aceitas pelo Conselho Federal de Psicologia se forem exclusivamente com finalidades de pesquisa. Já em outros países, como EUA e Reino Unido, esta pratica é legalizada. O fato de ser regulamentado implica diversas regras a serem observadas e o profissional deve levar em conta os aspectos específicos envolvidos em um atendimento on line como apresentado acima. Existem até guias que auxiliam o profissional nessa tarefa, assim como para quem usa estes serviços.
Outra característica que a internet e seu aspecto global trazem para os profissionais é a possibilidade de o cliente poder estar no outro lado do mundo. Isso quer dizer que o cliente pode vir de outro país, como também pode buscar um profissional além das fronteiras nacionais. Dessa forma, além do próprio conhecimento profissional da área e das exigências dessa forma de comunicação, o terapeuta deve conhecer amplamente a cultura na qual está inserido o paciente.
Muitos estudos e pesquisas vêm se realizando e são muito importantes para o desenvolvimento deste trabalho, cuja demanda cresce a cada dia. Pesquisas claras, com embasamento teórico profundo e com experimentos comprovados darão maior consistência para a legalização destes serviços. Precisamos de muita base empírica, muitos trabalhos práticos para esperarmos pelos resultados concretos.
Essa é uma área de inevitável expansão, oferece um campo imenso, mas os profissionais devem ter cautela, respeitando fronteiras e limitações para dar lugar às oportunidades. Neste sentido, a III Jornada do NPPI se propõe a discutir e trocar idéias sobre o que há de mais arrojado nesses campos no Brasil e no mundo. Esse debate é multidisciplinar e todos os profissionais e o público em geral que, de alguma maneira estejam envolvidos, estão convidados a participar. A mudança está em curso e devemos nos apropriar deste conhecimento.
Para mais informações, entre no site da III Jornada do NPPI: www.pucsp.br/nppi/jornada/

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Existe traição pela internet?


Às vezes nos perguntamos qual seria a nossa reação se nos deparássemos com um caso de traição pela Internet. Para discutirmos se existe essa modalidade de traição, precisamos antes entender o que é traição. E, para isso, precisamos entender o que amor. Será que a traição é somente a quebra de algum contrato determinado entre duas partes? Será que isto acontece de diferentes maneiras para cada sociedade ou cultura? Ou será que está implícita em cada individuo?
De fato, isso varia de acordo com cada indivíduo, com seus princípios morais e religiosos. Por exemplo, podemos citar a cultura muçulmana, onde o homem pode ter o número de mulheres que desejar, sempre e quando ele tenha possibilidade de sustentar todas elas. Ainda, nesse mesmo caso, todas as mulheres que ele venha a ter aceitam este fato como normal, pois isto faz parte da sua cultura.
Na nossa sociedade ocidental, verificamos que este conceito varia muito, já que é muito sabido que existem pessoas que incentivam seus parceiros a ter relações extraconjugais para melhorar o amor do casal. Da mesma forma, encontram-se facilmente casais na Internet a procura de sexo para satisfazer seus fins.
Cabe aqui também uma outra pergunta: será que alguém que trai na vida real ou na Internet não estaria à procura de algo que preencha a sua carência ou a sua falta de amor? Trocando em miúdos, muitas vezes a pessoa trai porque seu relacionamento “oficial” não está suprindo todas as suas necessidades.
Isso não é uma invenção moderna e nem nasceu com a Internet. A história e a mitologia tratam disso frequentemente. No século XII, os trovadores da nobreza de Provença, conhecidos como os cantores do amor, estavam muito interessados na psicologia do amor, e foram os primeiros, no Ocidente, a pensar nele do modo como ainda hoje o fazemos - como uma relação entre apenas duas pessoas.
Antes deles, o amor podia ser dividido entre a expressão de Eros –o deus grego que excitava o apetite sexual– ou de Ágape –que representava o amor espiritual, do tipo "ame o seu próximo como a si mesmo, sem importar-se com quem seja a pessoa". Não tinham nada a ver com a experiência de apaixonar-se, como os trovadores a compreenderam e pregaram, lançando as bases para o “amor ocidental”. As pessoas daquela época não tinham o conhecimento do amor como o conhecemos hoje.
O amor dos casais de hoje é algo muito pessoal, diferente das formas impessoais de amor da Antiguidade. Por ser algo que está no centro de nossas vidas, ele é estudado, cantado, versado, discutido. Joseph Campbell (autor do best-seller "O Poder do Mito"), afirma que o amor no Ocidente é um ideal puramente pessoal, um arrebatamento que pode surgir de um simples encontro dos olhares. Desde os trovadores, é uma experiência entre duas pessoas.
Será que pode existir esse tipo de amor pela Internet, uma vez que geralmente esses encontros apenas acontecem com desconhecidos uma vez e nada mais? Alguém que já tem um relacionamento estável e sai em busca pelo prazer puro, como ditava Eros na Antiguidade, está provocando um ferimento no amor, uma quebra do "contrato"? Novamente essa é uma questão individual, que depende dos conceitos morais de cada pessoa e de cada casal.
O problema maior aparece quando o relacionamento evolui, como na história de Tristão e Isolda. De acordo com este mito, Isolda estava comprometida com o rei Mark. Em sua viagem para se encontrar com o futuro marido, ela foi escoltada por Tristão. No caminho, os dois acidentalmente beberam uma poção que a mãe de Isolda havia preparado para que a filha e o rei se apaixonassem. Na verdade, o mito conta que eles já estavam apaixonados; a poção apenas trouxe à tona esse amor. Pelos padrões medievais, esse amor altamente espiritualizado era considerado adultério, uma heresia. O casamento válido, o contrato, era o que deveria ter acontecido com o rei.
Transpondo esse mito para nossa realidade, a Internet funcionaria como a poção da mãe de Isolda. Ela serviria como um facilitador para alguém que já está vivendo problemas latentes –ainda que não percebidos– no relacionamento atual. Nesse caso, aqueles encontros de apenas uma ocasião podem se transformar em algo muito mais real e freqüente.
Em resumo, respondendo essa dúvida tão freqüente: existe uma real traição nos encontros esporádicos tidos com desconhecidos, via Internet? A resposta essencial a essa questão realmente fica restrita ao íntimo de cada um, não podendo ser generalizada de nenhuma maneira. Por outro lado, se a Internet foi a "poção" que viabilizou o surgimento de um relacionamento completo, com uma terceira pessoa, então fica difícil negar que tenha havido uma traição. E com a ajuda da Internet.