quinta-feira, 31 de maio de 2007

Política virtual: por que a Internet tem grande poder de persuasão

A cada eleição que acontece, chama a atenção como a propaganda política invade nossas vidas. Mas, nos últimos pleitos, temos assistido à popularização de uma nova modalidade de panfletagem dos candidatos, cada vez mais ostensiva e eficiente em seus propósitos. Onde está todo aquele tumulto formando tapetes de santinhos pelo chão, que até pouco tempo era muito comum, principalmente nos países da América Latina? Onde está toda a papelada? O que acontece é que a Internet está varrendo todo aquele lixo (literalmente falando) e se posicionando como o maior painel de santinho, onde milhares de pessoas se inteiram sobre as propostas políticas dos candidatos, muitas vezes de maneira involuntária.
A Grande Rede é usada pelos candidatos e seus correligionários de diversas maneiras. Nos últimos meses anteriores às eleições, as caixas de e-mail e o Orkut começam a se encher de propagandas e scraps políticos (alguns até fazem propaganda em suas fotos!). Até nas mensagens pessoais do MSN aparecem frases com alusões à sua preferência política, como forma de propaganda espontânea.
Os políticos já perceberam há alguns anos o potencial de divulgação da propaganda (ou da difamação) da Internet, por isso a vêm usando explicitamente ou ainda contratando pessoas para fazer propaganda disfarçada, especialmente em blogs e em ferramentas como Orkut. Toda vez que as pessoas abrem a sua caixa postal, deparam-se com spams ou avisos de scraps no Orkut, relacionados à política. As pessoas acabam consumindo essa informação, mesmo que não estejam dispostas a ter contato com esse material.
O que a gente pode fazer frente a essa enxurrada? Como fazer uma seleção do que realmente queremos e do que não queremos ler? Muitas pessoas acreditam no que lêem na Web sem se preocupar com a sua veracidade.
A Internet está inserida na vida das pessoas, fazendo com que sejamos impactados por um volume de informação que simplesmente não existia antes. Pela natureza que a rede adquiriu, consumimos todo tipo de conteúdo com um nível de questionamento menor: apenas absorvemos os dados que nos chegam por esse meio, e estamos nos acostumando a isso. É como se a Internet fosse um oráculo moderno, que fala diretamente às camadas do nosso inconsciente, onde guardamos muitos conceitos que são tidos como verdades incontestáveis.
Paralelamente a isso, nós temos uma tendência natural de acreditar em conceitos e idéias com os quais nos identificamos. É a maneira como nosso cérebro funciona. Esse é um mecanismo sobre o qual justamente os políticos se apóiam para convencer –e manipular– as massas. É por isso que o político que fala “aquilo que o povo quer ouvir” ganha a eleição. Se essa informação –a propaganda política– ainda vem “mastigada’, e é dita com veemência e tom de certeza, será mais fácil ainda o seu caminho de acesso ao nosso inconsciente, e maior a chance de acreditarmos nela.
Nessa facilidade de a Internet falar quase que diretamente ao nosso inconsciente, recorrendo ao modus operandi do nosso cérebro, reside boa parte do sucesso da modalidade de propaganda política online. Afinal ela se vale brilhantemente dessa vantagem para atingir seu objetivo. Não apenas conquista o internauta em uma espécie de “boca de urna virtual”, mas também faz com que ele se comporte como cabo eleitoral na rede, propagando as idéias que absorveu de maneira quase automática. Assim, ele, que assimilou a propaganda política de maneira inconsciente, curiosamente passa a disseminá-la, agora já de forma consciente.
O amplo acesso à informação, correta e confiável, é sem dúvida um componente essencial aos processos de tomada de decisão. Certamente um mundo melhor poderá ser construído se um dia soubermos utilizar a Internet –e seu inigualável poder difusor de todo tipo de informação– para essa finalidade, porém de uma maneira mais criteriosa, como fazemos normalmente em conversas presenciais com nossos amigos, por exemplo. Assim certamente fortaleceríamos as bases para escolhas dos seres humanos, de qualquer natureza, não apenas aquelas da área política.