domingo, 26 de agosto de 2007

Meus amigos virtuais são reais?


“Agora eu consegui desabafar, me senti à vontade com você. Que bom que pelo menos conto com você, apesar de ser na net.” Esse tipo se frase é bastante comum em salas de bate-papo, quando as pessoas começam a criar uma intimidade com aquele que está do outro lado do computador. Este é um amigo virtual. Os relacionamentos expandem suas fronteiras e começam a ganhar mais campo.
Aquele que escuta, que sempre está presente, aquele que, quando liga o computador, chega e fala “oi” parece estar se tornando cada vez mais um amigo, um amigo virtual. Virtual, porque ele não tem um rosto. Mesmo que tenha uma foto ou uma imagem, não é dotado de contatos diretos e imediatos. Olhares, toques, sorrisos, cheiros são coisas alheias a este tipo de amizade.
O amigo virtual é achado no espaço, conquistado através de um teclado e de uma tela de computador. É possível fazer muitos amigos em poucos minutos, conhecer pessoas de diversas nacionalidades, raças, cores. Podemos até escolher se os queremos loiros, ruivos ou morenos. As opções estão aí, para que possamos escolhê-las do jeito que quisermos. E, assim como escolhemos a dedo, também somos escolhidos por muitos outros.
O vínculo com estes amigos virtuais se fortalece depois, no outro dia, quando se escuta o barulhinho do MSN e se percebe que aquele que se conheceu ontem está chamando. E, papo vai, papo vem, e o amigo virtual se instaura na vida da pessoa.
Parece que um amigo virtual é mais fácil de ser “administrado”, tanto na forma de se conhecer quanto no relacionamento. A vantagem de ter um amigo virtual é que você tem o controle da situação. Pelo menos é o que cada um dos amigos acha, já que pode cancelar a conversa se se sentir agredido ou se simplesmente a pessoa do outro lado não for mais interessante.
Com o amigo real, as coisas são bem diferentes. É preciso sair de casa, e ter todo um controle, não sobre o outro, mas sim sobre si mesmo, para poder fazer todo aquele “jogo de sedução”. São importantes os olhares, a expressão do rosto, o tom de voz, os toques, os cheiros. Com ele, não tem como simplesmente bloquear ou desligar o computador. Com os amigos reais, é preciso saber conviver e respeitar as diferenças.
Por outro lado, o amigo real leva muita vantagem justamente pelo fato de oferecer esse contato pessoal. Tendo que lidar com as diferenças acima, a pessoa vai aprendendo a conviver melhor com o mundo e consigo mesma, e se conhecendo melhor. Aprende os seus próprios limites e desenvolve o respeito com o outro. Afinal, o relacionamento não fica restrito a uma cadeira diante de uma tela.
Aparentemente parece ser mais fácil fazer amigos virtuais que reais, mas isso acontece apenas porque algumas pessoas vêm procurando isso mais na Internet que fora dela. Mais que isso, essas conexões são muito mais rápidas e diretas, com várias acontecendo ao mesmo tempo. Mas é exatamente o mesmo processo de se fazer amigos reais. A diferença reside justamente no fato que as pessoas não são capazes de fazer tantas conexões em tão pouco tempo. Entretanto, os contatos feitos no mundo real podem ser muito mais ricos, abrindo, de uma maneira mais sólida, um grande leque de possibilidades concretas.
Uma coisa bastante interessante do mundo virtual é que ele funciona como uma extensão da sua consciência. Nele, as pessoas destravam quase todas as suas limitações e praticam suas fantasias, de toda natureza. Por exemplo, uma pessoa tímida, uma dona de casa insatisfeita, sem perspectivas e com baixa auto-estima, um executivo estressado pelo trabalho podem descobrir novas possibilidades e superar suas limitações nesse ambiente, onde “tudo pode”: o tímido fica extrovertido, a dona-de-casa se descobre sensual e desejada, e o executivo relaxa sem pressões.
Assim viver uma amizade virtual se transforma em um grande exercício mental, onde os protagonistas se permitem explorar possibilidades que não se atreveriam no mundo real. Dessa forma, os relacionamentos virtuais, quando bem usados, ensinam e ampliam os horizontes de cada um. Mais que isso: muito do que se vivencia pelo computador pode ser depois resgatado e trazido para o mundo real, melhorando as performances individuais.
O problema é que, do mesmo jeito que esse tipo de relacionamento ensina, ele pode “seqüestrar” o sujeito para uma vida paralela que acaba sendo a sua vida principal. A fuga proporcionada aí assume dimensões exacerbadas, a ponto de que se passa a pensar que o ciberespaço é melhor que o mundo real, e os amigos lá são mais interessantes. Não existe vínculo entre esses dois mundos. O mundo online “suga” a pessoa para dentro do computador.
O ideal é que aconteça exatamente o contrário: fazendo o bom uso dessa realidade, pode acontecer o “resgate” do amigo virtual, aproximando duas pessoas reais que se conheceram online. Pois um “amigo virtual” é um “amigo” antes de ser “virtual”. Se essa amizade é construtiva, exercitá-la no mundo real é uma evolução bem-vinda, que aliará as vantagens dos dois ambientes em torno de uma pessoa. E aí o MSN passa a ser apenas mais uma forma de contato, e não apenas a única.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Política virtual: por que a Internet tem grande poder de persuasão

A cada eleição que acontece, chama a atenção como a propaganda política invade nossas vidas. Mas, nos últimos pleitos, temos assistido à popularização de uma nova modalidade de panfletagem dos candidatos, cada vez mais ostensiva e eficiente em seus propósitos. Onde está todo aquele tumulto formando tapetes de santinhos pelo chão, que até pouco tempo era muito comum, principalmente nos países da América Latina? Onde está toda a papelada? O que acontece é que a Internet está varrendo todo aquele lixo (literalmente falando) e se posicionando como o maior painel de santinho, onde milhares de pessoas se inteiram sobre as propostas políticas dos candidatos, muitas vezes de maneira involuntária.
A Grande Rede é usada pelos candidatos e seus correligionários de diversas maneiras. Nos últimos meses anteriores às eleições, as caixas de e-mail e o Orkut começam a se encher de propagandas e scraps políticos (alguns até fazem propaganda em suas fotos!). Até nas mensagens pessoais do MSN aparecem frases com alusões à sua preferência política, como forma de propaganda espontânea.
Os políticos já perceberam há alguns anos o potencial de divulgação da propaganda (ou da difamação) da Internet, por isso a vêm usando explicitamente ou ainda contratando pessoas para fazer propaganda disfarçada, especialmente em blogs e em ferramentas como Orkut. Toda vez que as pessoas abrem a sua caixa postal, deparam-se com spams ou avisos de scraps no Orkut, relacionados à política. As pessoas acabam consumindo essa informação, mesmo que não estejam dispostas a ter contato com esse material.
O que a gente pode fazer frente a essa enxurrada? Como fazer uma seleção do que realmente queremos e do que não queremos ler? Muitas pessoas acreditam no que lêem na Web sem se preocupar com a sua veracidade.
A Internet está inserida na vida das pessoas, fazendo com que sejamos impactados por um volume de informação que simplesmente não existia antes. Pela natureza que a rede adquiriu, consumimos todo tipo de conteúdo com um nível de questionamento menor: apenas absorvemos os dados que nos chegam por esse meio, e estamos nos acostumando a isso. É como se a Internet fosse um oráculo moderno, que fala diretamente às camadas do nosso inconsciente, onde guardamos muitos conceitos que são tidos como verdades incontestáveis.
Paralelamente a isso, nós temos uma tendência natural de acreditar em conceitos e idéias com os quais nos identificamos. É a maneira como nosso cérebro funciona. Esse é um mecanismo sobre o qual justamente os políticos se apóiam para convencer –e manipular– as massas. É por isso que o político que fala “aquilo que o povo quer ouvir” ganha a eleição. Se essa informação –a propaganda política– ainda vem “mastigada’, e é dita com veemência e tom de certeza, será mais fácil ainda o seu caminho de acesso ao nosso inconsciente, e maior a chance de acreditarmos nela.
Nessa facilidade de a Internet falar quase que diretamente ao nosso inconsciente, recorrendo ao modus operandi do nosso cérebro, reside boa parte do sucesso da modalidade de propaganda política online. Afinal ela se vale brilhantemente dessa vantagem para atingir seu objetivo. Não apenas conquista o internauta em uma espécie de “boca de urna virtual”, mas também faz com que ele se comporte como cabo eleitoral na rede, propagando as idéias que absorveu de maneira quase automática. Assim, ele, que assimilou a propaganda política de maneira inconsciente, curiosamente passa a disseminá-la, agora já de forma consciente.
O amplo acesso à informação, correta e confiável, é sem dúvida um componente essencial aos processos de tomada de decisão. Certamente um mundo melhor poderá ser construído se um dia soubermos utilizar a Internet –e seu inigualável poder difusor de todo tipo de informação– para essa finalidade, porém de uma maneira mais criteriosa, como fazemos normalmente em conversas presenciais com nossos amigos, por exemplo. Assim certamente fortaleceríamos as bases para escolhas dos seres humanos, de qualquer natureza, não apenas aquelas da área política.